Nestas profundezas em que habito
Já não moram mais lirismos
Mas um canudo de borracha
Alertando a fragilidade dos órgãos
Um hospedeiro exibido em radiografia
Na noite em que me derramei
Não foi poético
Foi líquido sujo e cansado
De um corpo doente
Em poente descascado
A anestesia que me roubou o corpo
Não era apenas metáfora
Mas substância poderosa
Mergulhando as pernas
Como rosas paralíticas
A obsessão não era mais caligrafia
Nem a morte hipótese paranóica
Se meu corpo chorava em cama de hospital
Escondido em filmes bobos e comida sonsa
Picadas,soro,orações e azias
A asfixia e a tontura
Não eram mais lenitivas
A bandeira de carne na janela do medo
Desta vez não era segredo
E a temperatura vazando barreiras
Não era mais surpresa
Da minha caixinha
Quinze copos de água
lavam minha ternura
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2 comentários:
A tonalidade clínica, o cheiro forte de ala médica que emana dos versos concede uma credibilidade e ambientação impressionante a cada oração da sua cria. Visualizamos-nos sendo dessecados em uma prancheta de sentimentos, ardendo com cortes precisos do bisturi. Me lembrou a “sonda estomacal”, um aparelho usamos para detectar alguma anomalia no estomago. De toda maneira, o texto é uma viajem neurótica, onde você ressalta aquele eterno medo de morrer que todos sentem na sala de espera, quando estão em dúvida se o mal que portam será um sinal para o ceifador de almas vir busca sua alma...
Rita, de verdade, sou teu fã incondicional!
Doidera! Já experimentou tomar banho numa banheira de bolinhas de gude?
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