terça-feira, 22 de setembro de 2009

Anatomia dos lençóis







I


As rasuras coaguladas me aprisionam
Em entregas adormecidas
O plano étereo decodificado nos músculos sádicos
Siglas enforcadas
Esses são os olhos massacrados do meu amor

A tentativa de fuga me espia pela janela
Quimeras gelatinosas serrando a mandíbula das palavras
que escorrega dos muros não digeridos
Há um pântano no céu de nuvens roxas

O que escorre destes tubos alucinados
Me desperta com a ossatura do silêncio

Cada víscera dissecada
É o presente que me escapa
Nas tardes infantis
Em que esquecemos nossos óculos em abismos apaixonados

Desconfio que teu bisturi
Apronta armadilhas no meu crânio
enfileirado nas paredes de seda
E nosso relatório de conclusões
Respira um ar perigoso

Não há medicina que nos salve
Dos corpos desistegrados e magnéticos
que sabem tudo sobre nós
que nos mastiga com ruídos impiedosos
Para isso,não há descanso,nem suporte

Vide anexo para minhas ilusões mais tristonhas
Não há salvação para o corbertor da tua pele
Nem para a cortina de órbitas sagradas
Esse estudo não tem fim

Ilhada,adianto as costuras
Permaneço fotografando a morte

II

Maculado e inacessível
O ventre dos pertences das moscas
que batem na minha porta
exigindo compreensão
ruminando asas doces e cruéis

Escuto a mesma música
Na tentativa de resgate de batimentos viciados
Tenho munição o suficiente para suportar cada beijo
Interrogações de esfinge leitosa
Tenho êxtase o sufiente para me arrebentar deitada

Repetições aleatórias são a chance
de desvendar o anagrama das serpentes
E paralisar minha idéias de roda-gigante
O arrepio maquinário de línguas atômicas
O arrepio da lucidez dos chicotes
eles sorriem para cada laceração

é tão tarde para escrever
e eu ainda nem comecei
Faço das ruínas meu confessionário
E de cada palavra um leque impossível
As estátuas escrevem em seus diários nauseantes
E não consigo pertencer a nada
Impregnada do sentimento de Unidade

quinta-feira, 16 de julho de 2009

Devotos dos lençóis histéricos



Gargantas voodus sopram radioatividade abençoada
Um artifício ferido pede ao menino:
- a cor pesadelo dos girassóis
internados na tua cama molhada!

Ele projeta improvisos
Ao som do néon
Chora bicho-papão seu armário
As tripas de bonecas da boca suja
Paralisadas com segredos decorados
Convulsões embrulhadas pra presente
Surtos escondidos na meia colorida

Órgãos imaginários se declamam
Na ladrilhada ponte nervosa

O fundo do sorriso do Planetário
É o menino alucinando no quintal
Um seio feroz a lhe cuidar o pensamento
E o desejo de cantar pedras nos pássaros

Epilepsias no céu
Deitam as formas abandonadas
No brinquedo de sonhar
O comprimido do peso das asas

Seu travesseiro é uma jugular derretida
No derrame do meu amor
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imagem:Mark Ryden

quarta-feira, 24 de junho de 2009

Cateter

Nestas profundezas em que habito
Já não moram mais lirismos
Mas um canudo de borracha
Alertando a fragilidade dos órgãos
Um hospedeiro exibido em radiografia

Na noite em que me derramei
Não foi poético
Foi líquido sujo e cansado
De um corpo doente
Em poente descascado

A anestesia que me roubou o corpo
Não era apenas metáfora
Mas substância poderosa
Mergulhando as pernas
Como rosas paralíticas

A obsessão não era mais caligrafia
Nem a morte hipótese paranóica
Se meu corpo chorava em cama de hospital
Escondido em filmes bobos e comida sonsa
Picadas,soro,orações e azias
A asfixia e a tontura
Não eram mais lenitivas

A bandeira de carne na janela do medo
Desta vez não era segredo
E a temperatura vazando barreiras
Não era mais surpresa
Da minha caixinha

Quinze copos de água
lavam minha ternura

domingo, 21 de junho de 2009

Ossos de plástico na alma noturna

Ossos de plástico na alma noturna

Esse tremor que ameaça meus ossos de plástico, eu chamo de noite da minha alma.
Com essa luz que arregaça os sentidos entorpecidos, eu lacro presentes que nunca chegarão aos seus destinos.
A mão gelada não sabe o calor e deseja a virulência de uma placenta.
Não quero sentidos, um sinal bastardo seria o suficiente para me despertar.
Vejo a mim mesma, como vejo os outros, não há o lado de dentro ou talvez tudo seja este lado. E é de longe, flutuando, que vejo a criatura que eu deveria ser.
O estado confusional é minha única verdade agora, sendo assim, não há nada pronto, nem nada que se afirme. Moro no olho do terremoto. Tudo me é afetado como quem esta sob efeito de uma poção.
O reino da alienação é cavalgada espinhosa. Vou arrastada, sem esporas, sem horizontes, com a noite na alma.

domingo, 7 de junho de 2009

Lista das viroses




Se acaso eu voltar do limbo
Escorrida, imunda
Olhos de dejetos
E sol apagado
Vai me pegar no colo?


Terá impregnação aromática do teu cheiro investigado
Nas minhas roupas emboloradas?
Seus discos na vitrola quebrada
O pulmão inchado de tanto oxigênio
E a mente sonhando águas róseas?


Viroses esta noite?
Um toque infantil pela manhã
O calor de qualquer dizer
Mesmo que mensagem falsa


Você vai me querer
Se eu estiver torta na lista das mais procuradas
Por delitos imperdoáveis
Se eu atear fogo no seu logradouro
Matar nossa galinha de estimação
Em ritual do mais possuir-te
Sem que ninguém o saiba
Você me interna no teu íntimo?
Se souber da minha língua gelada
Do meu ardor sem contexto
Você me cala?


Se confessar que esse pecado é puro
Que a ciranda gira ao contrário
Que a flor ama o espinho
E que já abandonei os esqueletos do armário
Isso é chamado?


Qual é tua senha?
O ritmo da tua dança
O vício da tua cura
A inexplicável explosão
Que me inflama
E espalha
Você me estranha?


Se eu te der tapa na cara
Cuspir nos teus livros
Arranhar teus signos
Plantar cactos nos teus medos
Diz que me ama?
imagem:Frida Kahlo

quinta-feira, 13 de novembro de 2008

Lobotomia

A faca rezou pedaços de mim
Na mesa dos teus planos
Tanto fui filha da ausência
Quanto suicídio verbal no caule das meias verdades

Meu próprio estupro
Trapos de desengano

Quem me perguntou
Por que o mais extirpar
Se não a foice dourando um colar?

Estuda, disseca e engole
Um sorriso orvalhado de esquecimento

O dia seguinte não trará um berço para nós

Desuso

Os selos costurados nesta voz
Não são meros ensaios
Da permanência
Nos intestinos do solo
De uma nostágica
Crua e atiçada
Em cinco mil palavras por segundo
Em parada cardio-respiratória

Eu que engulo palavras
Como quem nunca soube ouvir sabores
Clamo-te em cinco mil palavras
Nulas

Enfiar sentidos goela abaixo
Não é tarefa que me valha
Melhor beber dos teus relevos incinerados
Na sonda heróica
 



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